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Uma xícara de chá

Toquei seu rosto com delicadeza, levando a xícara até sua boca. De seus lábios enrugados, escorria aquele segredo guardado há anos. - Você precisa saber... – tosse, sangue – que é adotada. Eu... –tosse, sangue – peguei você na maternidade. Aquela mulher não poderia criá-la, minha filha, eu sei disso. Por isso eu trouxe você embora. Nunca descobriram. Nem mesmo seu pai acreditou que você não era minha. Tão parecida... Não contei a ele que sua irmã... – tosse, sangue – nasceu morta. Eu não disse nada enquanto a ajudava a beber o resto do conteúdo da xícara. Respirei fundo. - Eu sei, mamãe. Eu sei. Já tem alguns anos, na verdade. Quando eu descobri que você matou a própria filha recém-nascida, eu não fiquei tão chocada. Sabia que você era um monstro. E então você se arrependeu, não foi? Foi por isso que me roubou? Provavelmente deixou minha mãe pra morrer em algum canto. Pena que eu nunca vou saber como você fez isso, mas saber que fui eu que matei você já me deixa satisfeita. Seus ol

Haicais #1

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A outra

Lisa andava vagarosamente, cada passo arrastado era impulsionado por um novo ímpeto de coragem. O medo fazia suas entranhas se revirarem naquela curta e infinita descida até o porão. Ela seguia ouvindo a voz sussurrar. - Aqui embaixo... Ela não queria ir, não tinha mais idade para encará-la. Depois de todos esses anos, ela deveria ter ido embora! Mas ela não foi e lá estava Lisa, descendo para encontrá-la pelo que pretendia ser a última vez. Seu coração palpitava de maneira irrefreada, tentando alertá-la mais uma vez sobre a outra, mas Lisa não ouviu. No outro dia, os jornais anunciavam a morte de Lisa Thompson, encontrada ao pé da escada que levava para o porão. Não haviam confirmado a causa da morte, mas parecia ter sido ataque cardíaco. Vote no meu micro conto! https://sweek.com/pt/read/15943/1102674648

Morrer é difícil

Eliana queria morrer. Com as mãos trêmulas de medo, prestes a puxar o gatilho, percebeu que já não estava viva há muito tempo. Vote no meu micro conto no sweek! https://sweek.com/pt/read/16155/1102674648

Ode ao pão de alho

No aconchego Do carvão em brasa Se faz Tua amada crocância. Tão versátil, Aberto ou fechado, Tu nos brinda Com teu sabor Em nossa comilança. Tantos te renegam Por teu marcante recheio Não entendem tua importância Dentro de nossa festança. Real astro do churrasco Compartilhado a mesa Vem antes Vem durante A verdadeira realeza És o carinho de um aperitivo Preparado com amor. És uma festa na boca És uma dança nos pratos De mãos dadas com a salada Valsas tão bem com a clara farofa, E com a picância dela encontrando a tua Tu envolves o sumo da carne, Que penetra tuas entranhas Em um terno abraço.

Silêncio teu

Silêncio teu que aqui invade A roubar-lhe o rubor da face Fez de tua pele, palidez Como um dia que não nasce Silêncio teu que aqui fica A deixar-me a própria sorte Fez de tua vida, sopro E deu teu sopro, morte Silêncio teu que aqui jaz A prender-me o ar do peito Fez de tua paz a minha Em teu eterno leito Silêncio meu que aqui nasce A libertar-me do tormento Neste deleite de agonia Da qual hoje eu me alimento Silêncio meu que aqui morre A levar-te em um suspiro Pois a noite te roubou E depois a mim levou Com um único tiro

Silêncio

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